Quando penso saber quem sou, me transformo no que não pensei.
Quando porventura acreditei ser boa, me vi cometendo um insulto.
Quando tinha certeza de não ser tão bondosa, acabei fazendo alguém feliz.
Quando jurei ser “certinha”, senti um desejo inesperado.
Quando me julguei libertina, me vi completamente romântica.
Quando afirmei não ter mais forças, acordei no dia seguinte pronta para lutar.
Quando apostei em continuar, acabei desistindo de prosseguir.
Quando já estava me dando por vencida, resolvi levantar e continuar.
Quando pensei esgotada a minha fé, Deus deu um jeito de se deixar encontrar.
Quando acreditei não ter mais dúvidas, deixei de orar.
Quando nas manhãs ensolaradas olhei para o céu, pensei que aquilo era o paraíso, veio então a tempestade e baixei a cabeça pensando não acreditar que o céu existe.
Quando vi que as nuvens negras se foram , tarde demais, já era noite e a tristeza chegou, simplesmente porque o sol havia partido, foi então que olhei novamente e a lua me iluminou e pensei: Esta sou eu! Mas a lua também passou e já não sou luz que a lua trás.
Quando sozinha escrevo penso ser só alma, mas quando para o mundo me abro, sou apenas mais um ser humano no meio da multidão.
Entretanto quando olho as pessoas que ligeiramente percorrem as ruas, me vejo única, porque se não posso saber o que carregam em suas recordações, elas também não podem tocar-me por dentro.
Quando um dia passei no vestibular, afirmei saber quem era, o tempo passou e essa certeza foi levada com ele, eu não era isso.
Quando estou na igreja eu penso ser alguém muito religiosa, mas há momentos que a missa é só exterior e a religião uma alternativa de socorro.
Como posso saber quem sou ? Se nem ao menos sei o que é o mundo. Apenas tateio como uma cega nas ruas procurando uma segurança, e só acho um pouco de alguma coisa, algo comparado a um piscar de olhos, fugaz e fugidio. Então não posso dizer, nem conceituar, não posso afirmar e nunca o instante que vivo poderá ser sinônimo de certeza, porque o presente já é passado com o chegar de outro presente, que era futuro, e já não pode mais dizer o que é, porque o percurso continua.
Autora: Sharline Dionízio