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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

*#*O encontro*#*

    Um dia estava dentro do ônibus e um homem idoso sentou-se ao meu lado. Era um dia comum. O céu estava límpido e as nuvens pareciam ter tirado o dia de folga. A paisagem que via pela janela era a mesma de todos os dias.  As pessoas entravam e saiam pela porta que rangia cada vez que se abria. O calor era intenso e o sol batia forte no meu rosto, lembro que a cada minuto colocava minha mão acima da cabeça incomodada com a luz que vinha de fora. Muitas pessoas conversavam sobre assuntos diversos: namoros findos, festas do dia anterior, brigas sem fundamento, e eu escutava as frases pela metade, vozes que apenas ouvia por falta de outro incentivo.  Exatamente naquele dia algo me angustiava, sabe quando sentimos que tudo é muito igual, as pessoas, o ônibus, a vida? Estava sem coragem de viver e nada parecia interessante.  Um incômodo que estava longe de se resumir apenas ao calor do sol.
    Todas as conversas foram interrompidas pelo brusco freio do ônibus, em que todos nós fomos lançados parcialmente para frente. As atenções se voltaram para o ocorrido, após olhares ansiosos, cochichos preocupados e palavrões do motorista, descobrimos o que ocorreu. Um idoso subiu vagarosamente pelos degraus, caminhou pelo corredor entre inúmeros olhares. O suor escorria de sua testa. Ele não se incomodava com a atenção que recebia. Havia muitos lugares vazios, mas ele sentou ao meu lado. Então escutei algumas palavras de sua boca referentes ao motorista, não ouvi bem, mas o tom de sua voz não era de reclamação, era de desabafo.
      Depois do acontecido todos voltaram a seus assuntos, vozes novamente tomavam conta do espaço e, eu também voltei à minha inércia. Após algum tempo sentado ao meu lado, o homem olhou em minha direção e começou a falar. Confesso que não estava muito interessada, mas o escutava como quem nada fazia de importante. No entanto, na medida em que o ouvia, mais me impressionava com suas palavras. Voltei o rosto então para mirá-lo, seu aspecto era sereno e puro como uma criança de colo, nem parecia que ele quase morrera atropelado. Seus olhos eram vivos e transmitiam confiança. Fiquei envergonhada de ver tanta vida nele e uma dose enorme de desânimo em meus gestos.
    Em pouco tempo sua vida estava posta à minha frente como um banquete que o anfitrião faz questão de caprichar. Morava em um lar para idosos, junto com outros velhos maravilhosos, como ele mesmo disse, recebiam poucas visitas e muitas apenas assistencialistas. Queixou-se da falta de paciência das pessoas para ouvir "histórias de velho", e ressaltou da alegria que sentia quando uns poucos e raros jovens interessavam-se por seus conselhos, sentia-se útil. O meu mais novo amigo então, olhou fundo nos meus olhos e perguntou se eu já tinha visitado um asilo. Não precisei responder, ele viu a resposta nos meus olhos, no entanto fitou-me com compaixão. Falou-me que foi pobre, rico e pobre de novo. A mulher o abandonara na sua última  e fatídica condição de pobre e, seu filho precisava viver sua vida, sem falar que suas histórias repetidas, gestos vagarosos, dificuldade de audição e inúmeras outras limitações  atrapalhavam o filho, que trabalhava muito e não tinha tempo a perder, por isso concordou em ir para o lar de idosos.
      Continuou então falando que saiu de casa pela manhã, junto com os raios de sol, fora visitar o filho, já que ele não gostava de ir ao asilo, mas ao chegar à casa que o pertenceu há muitos anos e onde viveu momentos felizes, foi surpreendido por outras pessoas morando lá, e logo foi informado que seu único filho havia vendido a casa. Após desculpar-se foi caminhando vagarosamente pelas ruas, lágrimas desciam de seus olhos, queria apenas um abraço e a atenção dele, mas nem mesmo foi avisado. Foi quando viu o ônibus que se aproximava, e  percebeu que ele não iria parar mesmo fazendo sinal, então foi para frente dele e o motorista foi forçado a frear. Ele contou-me que não sabia do filho, mas uma coisa que não lhe faltava era esperança, ia esperar! Seu filho não o esqueceria. Concordei com ele e desci do ônibus, havia chegado a minha hora.  Nunca vou esquecer do que aquele homem me fez sentir. Alimentou-me com fartura e devolveu-me a esperança na vida.

Autora: Sharline Dionízio