O que posso sentir, senão o que de dentro me confronta,
me enfrenta, me espanta?
O que posso tocar senão os meus anseios e desejos, às
vezes tão mesquinhos, tão infames?
O que não suporto, o que me retorna de fora e de dentro,
dos lados e me devora.
A vida sempre
devolve da mesma forma.
Quem pode deixar de ser o que foi de antemão considerado?
Ninguém pode escapar da vida e até mesmo a morte não pode
nos roubar a hora da partida.
O que de você me é apresentado, o que de mim não tenho
como único, o que de tantos me disfarço?
Tenho de mim, de você e de outros que nunca olhei.
O que minhas verdades dizem é a mentira da humanidade.
O que sei é o que todos sabem.
A subjetividade é uma máscara que se usa para não
enlouquecer, para não esquecer
a poesia do mundo.
É o choro, é o desespero, sou eu sozinha assim, dentro do
quarto.
Meu olhar é mudo, meu olho escuta, meu ouvido fala.
Tudo fala por mim, tudo se move, tudo cala em mim.
Olhe suas mãos, sinta seu coração.
Veja como pulsa, arde...
É a vida e ao mesmo tempo a morte.