Há dias
solitários, quentes e vazios em que o vento passa somente por passar.
São dias banais,
distraídos e sem sentido.
Tempo de um nada
que se instala debruçado nas janelas da vida
a esperar o
sorriso de uma novidade corriqueira.
Tardes frívolas
banhadas por pequenas doses de descontentamento.
Não há alegria em
deixar-se ser.
E é isso que faz o
dia tão trivial: a vida
levando teu dia e
tuas tardes tão banais.
O céu parece não
se importar com o movimento que faz.
Só eu a espreitar os
desenhos dos aviões que vão riscando o ar.
Os gritos de choro
são crianças na calçada contrariadas pela mãe.
Os pássaros que
cantam são pequenas criaturas aprisionadas em gaiolas
entoando a canção que
não tenho coragem de cantar.
Olho, sentada na
calçada, um cão cheio de dores que se arrasta pelas ruas.
Ele nem sabe que a
vida o devora.
Quis ser como ele,
que a vida carrega aos poucos sua energia e ele nem ao menos
Se importa. Eu,
que nem cão sou, arrasto-me entre desatinos e
tenho consciência
da minha miséria.
O sol faz seus
primeiros deslocamentos de despedida.
Nada muda no que sinto
e vejo do dia que vai embora.
Sharline Dionízio