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quinta-feira, 25 de julho de 2013

O que não se vê



Olhava para tudo ao meu redor, era uma tarde comum e aconchegante. O céu tinha uma cor alaranjada e as nuvens davam passagem para o colorido se espalhar no horizonte. Eu olhava desatenta para o céu e via nuvens que dançavam junto com a brisa que passava tão calma e melancólica. Minha vontade era de não passar, de ficar ali sentada como quem tem a vida toda para viver. É tão bom ficar quietinha somente olhando, sem deveras ver!
Estava, simplesmente, sentada em um banco de praça entre muitas que existiam no mundo. Apesar desse sentimento de pertencimento cósmico eu sabia que possuía em mim algo intransponível, mas não sabia ao certo, o quê.
Via crianças brincando de se esconder, mães conversando sobre afazeres cotidianos e sobre seus filhos, bicicletas e velocípedes percorrendo a praça bem diante dos meus pés, criaturinhas tão pequenas passavam perto de mim e nem me notavam. Tinha a sensação de estar observando tudo e  no entanto, não estar ser vista por ninguém.
         Ao longe notei que uma criancinha não estava brincando como as outras. Ela tinha na face uma lágrima que parecia não parar de cair, uma lágrima constante. E nos olhos um brilho que não se podia explicar. Parecia uma criança de seus 8 anos, não tenho certeza, cabelos soltos  no compasso do vento, balançava as pernas curtas devagar e em um certo ritmo, como quem se concentrava  para isso. Ela não brincava, não tinha amigos. Parecia triste e ao mesmo tempo não aparentava incômodo por assim estar. Esperei algum tempo na certeza de que alguém se aproximaria dela. Depois de um tempo uma mulher, provavelmente sua mãe pegou sem delicadeza o seu braço, entre xingamentos e gritaria e a levou embora. Fiquei por alguns minutos refletindo na incapacidade humana. Nas mãos atadas, na insuficiência que nos circunda.   
         Quando ainda estava fazendo cogitações sobre a cena anterior, alguém sentou ao meu lado no banco, quase não senti porque o gesto foi simples e brando, assentou como quem não precisa de muito espaço para viver. Olhei para o lado e me senti tão bem. Toda a ideia antecedente se dissipou. Olhos pequenos, cabelos brancos, corpo esguio e um sorriso constante. O pouco tempo que ficou lá sentado, me serviu para vida toda. Eu poderia dizer que ele conversou copiosamente e me ensinou várias lições. Mas não foi isso que aconteceu. Ele só sentou ao meu lado, tem gente que não precisa de palavra para dar um exemplo. Ele distribuía rosas a todos que passavam e, às vezes, como num súbito despertar de sua satisfação ele dirigia-se a mim dizendo que ofertar rosas era seu ofício de viver. Entendi sua satisfação pelo sorriso de quem recebia o presente. Em um momento ele apontou para o céu e pediu que lhe contasse o que eu via. Não entendi, mas comecei a descrever o crepúsculo que surgia tão magnífico. Percebi ao olhar fixo em seus olhos que ele era cego. Mas foi os meus olhos que ele acendeu.
         Os gestos tão distintos dos personagens, mostram o que podemos ser na vida de alguém, o quanto o amor dos pequenos modos podem ser reveladores. Uma tarde na praça, um pôr-do-sol infinito na alma.