Ainda que na rotina me escondesse, que nos impávidos pés da invisibilidade ilusória tentasse fugir à convocação da vida, não poderia ausentar-me do fluxo agressivo dos dias que ligeiramente, vão escapando ao nosso controle.
Mesmo que de longe olhe o horizonte da vida, não me arrisco imaginar que chegarei ao fim. Ou mesmo que chegasse não serei decerto, merecedora de glórias e troféus.
No fogo da lareira que vai queimando aos poucos, algo mais que matéria- prima vai se esvaindo junto com os sonhos que timidamente sonhei. A música que tocava , já não se ouve mais, a dança que a passos largos sentia como louco que, sem reservas apenas explode com o calor dos gestos, já não é visível aos olhos de dentro.
Algo mudou, mas o quê?
Entre tantas brincadeiras me achava! Faz de conta, gritaria, algazarra... pequeno mundo que já não é sozinho. Espaço que transformei em lugar. Só dentro de mim é que posso achar. Tantos detalhes que hoje procuro no ar... já não será possível respirar. Ar de infância, de amor simples como o fogo da lareira, que de tão igual já não queima cá dentro.
Devagar para que eu possa apenas olhar e nessa atitude de quem não olha deveras o fogo, possa quem sabe achar o que não sei. Talvez seja um caminho, ou quem possa caminhar. Não importa, o que interessa é procurar. A única certeza são as pedras do percurso que irei passar.
A questão não é o que se procura, mas o motivo da busca. Quero me encontrar e enquanto não acho vou sendo como esse fogo que demora para queimar.
Autora: Sharline Dionízio