Hoje
me dei conta que pensar sobre a morte é uma chance que Deus nos dá, antes dela chegar.
Morrer, caros leitores, é uma forma de sair de cena de uma forma memorável. Só
hoje, percebi deveras, que não queria morrer de forma alguma... Mas, quem o
quer? Meu pai um dia salvou uma lagartixa da fuga implacável de um gato que a
iria matar e pensei que não era seu dia. Eu salvei um pássaro que não podia
voar... mas ele morreu mesmo assim.
Lembrando
dos pacientes internados chego à conclusão mais cruel: poderia ser eu... Porque
não? O que impede? Comumente não pensamos nisso. Mas, eu como a borboleta saio
do casulo da mesmice. Adoro esse exemplo, gosto de borboletas... Seu vôo é
leve, vê-las é tão simples, são delicadas
e ao mesmo tempo resistente as intempéries. Aprendem a sobreviver ao casulo,
aprendem com isso. Elas são vibrantes, coloridas e um dia já se rastejaram na
vida, talvez isso as tenha ensinado a valorizar sua última fase como ser alado.
Contudo, não nos permitem o pouso fácil, se quisermos admirá-las é preciso
olhar para cima.
Sempre
que abro a porta de uma enfermaria para falar com um paciente, eu reflito se
mereço participar de sua vida deste jeito. As perguntas que faço, por vezes, os fazem
chorar, se emocionar. Pergunta simples: Como está se sentindo hoje? As lágrimas
escorrem, as mãos repousam trêmulas no rosto, a cabeça se inclina e não se olha
nos olhos, como se chorar fosse uma confissão, uma sentença.
Por
que estou aqui, se não for para isso? Estou ali, chorando junto sem que a
lágrima decline, dizendo sem dizer, que compreendo a sua dor, como se eu a
estivesse sentindo. Que sem abraçar, os meus braços estejam abertos para
acolher seu sofrimento. Quando caminho pelo hospital, eu vejo que sou apenas
mais alguém que resolveu ser pôr-do-sol... tudo se renova.
Freqüentemente
olho pela janela e vejo a imensidão do mar, então não penso mais nada, eu me
curo de ser gente. Não vejo, eu sinto e sentir é sarar dos olhos.