Os olhos não sabem em que exatamente fitar
e ao que parece não há pressa para fixar-se em algo.
Os sons daquela tarde costumeira
são diversos e já tão naturais, que é difícil distingui-los do constante gemido
que opera a cadeira de balanço em que está acomodado.
A tarde é igual, o céu
permanece com aquele azul claro que parece ser presente de Deus a quem não
espera mais nada da vida.
Passos despreocupados seguem à sua frente e vão
desaparecendo à medida em que se distanciam, ficando apenas o rastro de gente.
A cadeira vai para frente e para trás e a vida vai sendo levada, assim como o
vento conduz delicadamente a folha que não se dá conta de seus movimentos.
Não tem pressa
mais para viver, aprendeu que a vida acontece sozinha.
As conversas alheias à sua frente não o distraem, escuta como quem não se detém nas palavras, apenas no essencial.
Os olhos alheios não se voltam para à calçada e ele pensa consigo que não tem mais atrativos para receber um olhar mais demorado.
Elege alguns passantes e pergunta-lhes a hora, como uma forma de dizer ao tempo que não tem medo do espaço que percorre.
As lembranças são constantes em sua mente, é o que move ainda seu interior...
os tempos de juventude.
As mulheres que amou, as paixões findas e os dias de sofrimento que o faziam sentir-se vivo.
Tudo é passado?
parece que não, consegue sentir cada sensação, cada suspiro, toda paixão!
Ninguém sabe o que se passa em seu coração no momento em que está sentado na cadeira de balanço.
Prefere calar, ninguém tem tempo para escutar e certamente repetiria as mesmas histórias que seus filhos e netos já estão cansados de ouvir.
Mal sabem que tudo que fala é o que mantém sua vontade de viver ainda, vive disso: das lembranças.
Todo dia é a mesma coisa: Tarde ensolarada, cadeira na calçada e a vida que passa.
Sharline
Dionízio
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