Fechei janelas importantes, eram
cheias de grades que me prendiam, grades invisíveis, idéias arraigadas a mim, e
eu não percebia assim. Mas não as cerrei por definitivo, elas continuam
esperando por mim, não abandonei meus intentos passados, meu velho assoalho.
Tudo que construí acima dele, ele, por vezes, me recorda o que antes me
atrelava ao chão. Um ser, um lugar, uma ideia, um amor de rei. Dias
ensolarados, dias convencionais, dias repletos de conformismo, de injúria, de
querer ficar, de sair sem rumo, de olhar nos olhos, de fugir de lá. Um dia eu
olhei para trás, eu toquei o chão, eu quis parar, não pude voltar. Uma página
saiu voando, com uma ventania que jamais passará. Um dia, faz tempo e o tempo
se faz agora. Houve um tempo que o dia era futuro e o futuro agora. Houve em
mim jardins com olhos humanos, em cada olho um lugar e um ideal de ego que eu
não podia explicar. Andava e meus pés
queriam voltar, havia pouca paz e muita melancolia. Ainda não sei em qual
janela permanecer, qual a melhor paisagem. Não sei dizer se o céu que hoje
contemplo é mesmo o reflexo do dia que não passa, do dia que nunca passará.
Existe um tempo eterno? Um momento que pode durar? Eu vivo como quem não sabe
olhar, eu vivo com meus limites, com tudo que sou agora, eu vivo como quem luta
e não sabe contra quem lutar. Eu sigo em frente e não quero mais voltar, eu
continuo num caminho que parece o melhor, eu deixei outra vida antes e preciso,
pelo menos, saber o que deixei para lá. Me pergunto quem sou eu, quantos não já
perguntaram? Eu sigo perguntando quantos passos valem a pena, quantos caminhos
caminhar, eu pergunto todo dia que é essa psicologia? Eu pergunto quem vai me
explicar. Quantos olhos encontrei! Olhos mesquinhos, olhos de burguês.
Encontrei olhos vazios também olhos de amor e prazer, olhos de piedade,
encontrei você. Falei para ouvidos atentos, falei como quem canta uma música
indecifrável, falei e falei. Ouvi histórias tristes, ouvi piadas que me fizeram
rir, ouvi sem querer, ouvi sentindo uma dor que nunca havia sentido, era
amargura, aflição, agonia. Tive que ouvir, tive que segurar o choro, a voz,
tive que sair ereta, tive que permanecer. Quantas casas entrei, quantos dias me
escondi de mim, só pra me defender. É duro olhar e sentir que a vida é tão
mesquinha assim, mas a vida me alegra quando sabe agradecer, quando devolve a
alegria, quando a esperança é madrinha, quando se busca um refúgio em olhos que brilham, em
mãos que se mexem, em sorrisos que me apetecem. Descobri que as janelas alheias
são cheias de medo, de desespero. O que me acalenta é sentir o cheiro das rosas
por algumas janelas que vejo. Passantes felizes, outros que andam só por andar.
Eu estou aqui, é difícil enxergar, é difícil escutar, é difícil falar na hora...(?). Se as pessoas erram, não é porque elas querem errar, quase sempre, não
sabemos enxergar, escutar e falar na hora certa.
Adorei Sharline...
ResponderExcluirObrigada Eliane! :D
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