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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Pelos olhos teus...


Suas mãos estão pousadas no rosto, como quem espera um milagre não anunciado. Olhos perdidos no horizonte, fala inaudível, semelhante à alguém que dialoga consigo mesmo. E em meio à paisagem áspera dos dias que se seguem ruins, ele não pede muito da vida, brada somente que os céus possam, quem sabe, escutar-lhe as preces.
         E ali, parado, olhando para o nada tão grande, ele se lembra dos dias de céu pesado. Dos caminhos cheios de barro, das pedras molhadas, da terra alagada. Lembra-se das horas de alegria intensa, pela cor da esperança tão à vista de seus olhos. Recorda-se das águas tão fartas que um dia circundaram seus territórios. Quanta felicidade era para o seu velho coração, encontrar a fartura de suas plantações, a cor e o brilho da natureza por ele cultivada.
       Seria porventura, pedir muito, se clamasse apenas trabalho para seus braços ainda fortes e relutantes? Seria maldizer se todos os dias ele acordasse ansioso pelo cheiro de terra molhada e apenas lamúria encontrasse, ao ver em seu lugar o aroma quente e seco dos dias de estiagem? Não, meu querido sertanejo, se Deus nos primórdios do mundo “condenou” o homem a viver do suor de seu trabalho, por certo não se importaria de escutar vossos lamentos.
     A tua crença é tão digna quanto qualquer Deus que se possa adorar. Tua fé é pautada no que mais podes admirar, naquilo que pulsa em teu coração. Nas águas, no ar, no verde de cada árvore que se ergue em cada estação, no plantio e na colheita, nos animais de criação, nos pássaros que anunciam o inverno ou verão. Se a natureza pudesse um dia te falar com lábios e olhos para chorar, diria que todos os dias enxerga a esperança em ti bradar, que tuas lágrimas não serão esquecidas, que teu respeito pela mãe de todos os seres, um dia será recompensada.
      Por teus olhos e exemplo eu aprendo. Aprendo bem mais que nos livros. E sentado embaixo da árvore, olhando para você, eu levo para a vida lições que iguais não poderia ter, em universidade qualquer. Assim, eu observo no dia nublado tua esperança, eu noto bem mais que os outros poderiam ver, eu vejo tua expectativa no horizonte que não chega.



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